Mesmo com todos os esforços para conter a pandemia de coronavírus, o especialista afirma que não é possível definir se os recursos serão suficientes

Ronaldo Vidal é coordenador do serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Mário Covas de Santo André, hospital público de grande porte que conta mais de 400 leitos e quatro unidades de terapia intensiva (UTIs). Mesmo com todos os esforços para conter a pandemia de coronavírus, o especialista afirma que não é possível definir se os recursos serão suficientes. “Minha preocupação é com a situação em si; não tenho críticas à administração do hospital. Dependendo da velocidade de propagação da epidemia, as vagas de UTI existentes podem ser insuficientes”, afirma o especialista de 51 anos ao Estado.

Abaixo, seu relato sobre a situação do coronavírus no hospital em que trabalha:

“Desde 2001, trabalho no Hospital Mário Covas de Santo André, hospital público de grande porte, que atende casos cirúrgicos e clínicos de alta complexidade em diversas especialidades médicas. O local conta com mais de 400 leitos e quatro unidades de terapia intensiva (UTIs).

Nas últimas semanas, mudanças impactantes aconteceram com a chegada da covid-19. Os ambulatórios e cirurgias eletivas foram suspensos e leitos de UTI foram reservados para receber casos do novo coronavírus. Também foram adotadas medidas como afastamento de colaboradores idosos e oferecimento de apoio psicológico aos profissionais em função do estresse do momento.

São 36 pacientes internados com covid-19, desses 18 estão entubados. Das quatro UTIs, duas já têm pacientes com o novo coronavírus; as outras atendem outro tipo de doenças. Além disso, cirurgias cardíacas e oncológicas não foram suspensas e também consomem vagas.


Apesar de todos os esforços, não sabemos se teremos recursos suficientes para atender em determinados cenários. Esse é um dos maiores receios. Minha preocupação é com a situação em si; não tenho críticas à administração do hospital. Dependendo da velocidade de propagação da epidemia, as vagas de UTI existentes podem ser insuficientes. Outro risco é a contaminação e o consequente afastamento de muitos profissionais da saúde. Como muitos deles trabalham tanto no serviço público quanto no privado, os dois setores podem sofrer uma carência de profissionais.

Esse risco pode ser minimizado se os profissionais sempre tiverem equipamentos de proteção individual (EPI) adequados e forem testados para covid-19 com frequência para que não sejam transmissores assintomáticos”.

Estadão Conteúdo