Rubro-Negro estreia na Copa do Brasil com placar magro, atuação burocrática e vaias da torcida

Depois de duas derrotas e um empate, o Flamengo conseguiu quebrar a sequência negativa e voltou a vencer na noite de quarta-feira no Maracanã, em sua estreia na Copa do Brasil. Foi contra um organizado, porém modesto Amazonas, que foi campeão da Série C do Brasileiro e subiu esse ano para a Segunda Divisão do país. Mas, convenhamos, não deu nem para a torcida comemorar.

Começando pelo placar: 1 a 0 magrinho, sem aproveitar o fator casa para construir um saldo de gols, que inclusive poderia fazer do jogo da volta uma rara oportunidade de poupar peças, como prega a “ciência rubro-negra” em meio à exaustiva maratona de compromissos. E como o Flamengo não o fez, por exemplo, na segunda partida da final do Carioca contra o Nova Iguaçu, após abrir uma vantagem de 3 a 0 no duelo de ida.

Passando para a atuação. “Ah, foi 1 a 0 só, mas o Flamengo criou 57 chances de gol, finalizou 82 vezes, e o goleiro dos caras fez 35 milagres”. Óbvio que isso é um exagero, mas é só para mostrar que um mesmo placar tem peso diferente de acordo com o desempenho. E uma coisa que não se pode negar é que foi uma vitória justa. O burocrático Flamengo não jogou para fazer e merecer mais, enquanto o Amazonas sequer ameaçou para tentar buscar o empate.

Entrando agora no aspecto emocional (ou anímico, como às vezes se prefere usar no meio do futebol). Era o jogo ideal para se recuperar a confiança depois de uma semana ruim e antes de iniciar uma sequência pesada com duas partidas seguidas fora de casa, Libertadores e clássico com o Vasco. Se o Flamengo tivesse amassado o Amazonas, independentemente do placar, ou tivesse goleado mesmo sem uma grande exibição, a moral iria lá em cima novamente.

Jogadores do Flamengo agradecem a torcida após o jogo contra o Amazonas — Foto: Jorge Rodrigues / AGIF

Jogadores do Flamengo agradecem a torcida após o jogo contra o Amazonas — Foto: Jorge Rodrigues / AGIF

E por fim, o fator torcida. Com os questionamentos aumentando sobre o trabalho de Tite ultimamente, era a chance de puxar a massa rubro-negra para o seu lado novamente. Ainda mais com todo o clima gerado pelo retorno de Gabigol após o ídolo obter um efeito suspensivo para voltar a jogar. Só que até isso foi ofuscado. A festa se transformou em vaias no intervalo do jogo, e o descontentamento subiu o tom nos minutos finais, com xingamentos ao técnico e protestos contra o time.

Mas por que aquela equipe que encantou no Carioca parou de render? Digamos que depois do estadual o Flamengo fez dois excelentes primeiros tempos contra Palestino e São Paulo, ambos no Maracanã, e parou por aí. É claro que existe uma diferença grande de nível de enfrentamento, porém, o Rubro-Negro está devendo mais do que os méritos dos adversários.

O meio de campo, por exemplo, que quiçá era o melhor do Brasil com Pulgar, De la Cruz e Arrascaeta, vem sofrendo com problemas físicos. Contra o Amazonas, só De la Cruz jogou do trio e novamente mais avançado, fazendo a função do Arrascaeta. Ele até começou bem, pisando na área, finalizando, mas começou a voltar demais para combater porque o time estava tendo dificuldades na marcação.

E um dado que chama bastante atenção é o número de passes: 726, um número bem alto até para quem teve 67% de posse de bola. Mas 221 desses passes foram dos dois zagueiros (121 do Fabrício Bruno e 100 do Léo Pereira). Ou seja, com o Amazonas sem a menor vergonha de jogar na retranca, eles viravam uma espécie de armadores na construção inicial das jogadas. Curiosamente, os reservas Léo Ortiz e David Luiz em tese têm mais recursos técnicos nesse fundamento.

E quando De la Cruz saiu aos 18 minutos do segundo tempo, o time perdeu o pouco de criatividade que tinha e virou o popular “arame-liso”. Tite justificou a substituição dizendo que o uruguaio sentiu a panturrilha, mas isso não muda que o técnico foi mal na hora de mexer. Como ele mesmo admitiu na entrevista coletiva pós-jogo, Gabigol não tinha condição de jogar meia-hora como o fez. Por outro lado, Gerson, que ainda não voltou bem desde a cirurgia no rim, ficou em campo apagado os 90 minutos mais acréscimos.

A finalização à queima-roupa de Viña para defesa de Edson Mardden na linha de fundo da área, após o lateral uruguaio receber com um toque de primeira de Pedro, aos 31.

Flamengo de Tite precisa se reciclar e se desengessar para achar novas saídas, ainda mais com desfalques importantes como vem tendo e continuará diante do Bragantino no próximo sábado, às 18h30 (de Brasília), no Nabi Abi Chedid, pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro. O jogo de volta da Copa do Brasil será só no dia 22 de maio, na Arena da Amazônia. Os jogadores se reapresentam no Ninho do Urubu na tarde desta quinta-feira e terão dois treinos antes da viagem a Bragança Paulista.

Fonte: GE