‘Não acho que a cobra se divertiu muito’, disse um dos autores do estudo que tentou desvendar o mistério registrado na Bolívia

É muito difícil ver um golfinho fluvial boliviano, uma espécie de boto típica do país. Mesmo cientistas dedicados dizem que ver um com a cabeça para fora da água é algo bastante raro. Ainda assim, eles merecem atenção: o comportamento desses animais é um indicativo da saúde de rios e de animais de ecossistemas fluviais das selvas da Bolívia.

Por isso, ver uma dupla de macho da espécie se divertindo com uma sucuri na boca foi algo um tanto chocante para pesquisadores do país. E também algo jamais fotografado

O registro foi feito em agosto de 2021, no rio Tijamuchi, na Bolívia, por Steffen Reichle, um biólogo do Museu de História Natural Noel Kempff Mercado.

Segundo o New York Times, apenas quando foi rever as imagens ele percebeu que os mamíferos pareciam se divertir com a cobra gigante. O que eles faziam? Esse é um mistério que não pode ser respondido no momento — mas rendeu um estudo científico publicado em 12 de abril, na revista Ecology.

Os cetáceos — grupo de mamíferos marinhos que englobam, resumidamente, baleias e golfinhos — são conhecidos por sistemas sociais complexos e por brincarem com frequência.

Mas se divertir com uma sucuri, uma cobra gigante e predadora, é algo nunca observado antes. O registro é ainda mais intrigante pelo fato dos botos bolivianos (Inia boliviensis) raramente aparecem na superfície — grande parte das fotos deles acima do nível da água mostra apenas a cauda ou uma das barbatanas.

Mas, durante a brincadeira, eles mudaram esse comportamento. Os biólogos identificaram um grupo de seis animais e vários deles permaneceram um tempo considerado bem longo com a cabeça acima da água.

Enquanto se divertia, a dupla nadou de forma sincronizada, enquanto manteve a cobra presa na boca. Os cientistas não sabem o destino do réptil gigante ou o motivo dele ter sido usado como um brinquedo. Como a brincadeira durou cerca de sete minutos, grande parte dela submersa, é seguro apostar que a cobra não saiu viva da interação.

“Não acho que a cobra se divertiu muito”, disse Reichle, ao New York Times.

Apesar da provável morte, a sucuri-da-bolívia (Eunectes beniensis) é um predador temido, que chega a 4,5 m de comprimento e se alimenta de aves, peixes e pássaros. Agora, também é um brinquedo de cetáceos.

Fonte: R7