Em levantamento do IBGE, Espírito Santo apareceu com o maior índice de mulheres com nome de Penha do país e devoção à padroeira pode explicar resultado.

Nesta segunda-feira (8), o capixaba celebra o Dia de Nossa Senhora da Penha. E a influência religiosa e cultural da padroeira do estado vai além das homenagens em um único dia. Milhares de mulheres levam o nome Penha no registro, o que fez do estado a região como o maior índice de ‘Penhas’ do Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa do instituto disponível pelo programa “Nomes do Brasil”, mostra que o estado possui a taxa de 43,10 nomes simples ou compostos de Penha por 100 mil habitantes, o maior índice do país. Ou seja, a cada 100 mil pessoas, 43 recebem o nome.

O estado capixaba é seguido por Rio de Janeiro, com 14,38, e Minas Gerais, com 6,31. Ambos muito atrás do primeiro lugar capixaba.

No Espírito Santo, os registros com o nome começaram a subir da década de 1930 até a 1960.

Os dados mais recentes são relativos ao Censo Demográfico de 2010, mas, de acordo com o IBGE, ainda assim fazem parte do levantamento mais recente desse tipo, uma vez que ainda não foram divulgados esses dados do Censo 2022.

Desde 2019, o Dia de Nossa Senhora da Penha é feriado estadual. O feriado é sempre comemorado em uma segunda-feira, oito dias depois do domingo de Páscoa.

Nome em homenagem ou agradecimento

Penha Rosa Bento de Oliveira recebeu o nome em homenagem à padroeira do Espírito Santo — Foto: Reprodução TV Gazeta

Penha Rosa Bento de Oliveira recebeu o nome em homenagem à padroeira do Espírito Santo — Foto: Reprodução TV Gazeta

A dona de casa Penha Rosa Bento de Oliveira, de 48 anos, é um exemplo de capixaba que recebeu o nome em homenagem à Nossa Senhora da Penha. Para ela, é graças a Nossa Senhora que está viva.

“Eu nasci com muita falta de ar, não conseguia respirar, tinha problemas pulmonares. Minha mãe, dona Eumira Maria, me teve logo depois de uma tuberculose, quando chegou a ficar internada nos Hospital da Ilha da Pólvora, em Vitória, que mantinha os pacientes isolados. Foi um parto muito difícil”, contou.

Penha atribui também a padroeira inúmeras bênçãos recebidas ao longo dos anos, espírito Santo — Foto: Reprodução TV Gazeta

Penha atribui também a padroeira inúmeras bênçãos recebidas ao longo dos anos, espírito Santo — Foto: Reprodução TV Gazeta

Penha atribui também a padroeira inúmeras bênçãos recebidas ao longo dos anos.

“São muitas bênçãos na minha vida, cresci numa casa em que o banheiro não tinha porta, o chuveiro não era quente, passava rato de vez em quando. Hoje tenho uma casa linda, com piscina, casei com um homem maravilhoso, também católico, filhos maravilhosos”, disse.

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Convento da Penha fica em Vila Velha — Foto: Everton Thiago/Secom PMVV

Convento da Penha fica em Vila Velha — Foto: Everton Thiago/Secom PMVV

Nome é reflexo da devoção

Para o historiador Marcus Vinícius Sant’Ana, esse alto índice de Penhas no Espírito Santo é o reflexo da presença da devoção a Nossa Senhora da Penha no cotidiano do capixaba.

“Nomear o filho com o nome de Nossa Senhora da Penha tem o sentido de santidade, de ser um nome santo, mas também é algo de entrega, como se entregasse, se desse a Nossa Senhora a proteção da pessoa que está nascendo”, explicou Sant’Ana.

Para Marcus Vinícius, o pico de ‘Penhas’ na década de 60 pode ter tanto uma relação com a oficialização de eventos da festa como temos hoje – como a Romaria dos Homens, que tem 66 anos – como ser por causa do aumento populacional que o Espírito Santo teve com a vinda de imigrantes de outros estados nesse período.

“A partir do momento que se tem uma manifestação como a romaria, você aumenta a fé e a probabilidade de promessas e adeptos”.

O historiador reforça que a devoção a Nossa Senhora da Penha sempre foi algo muito forte e presente no cotidiano do capixaba, especialmente, antes do aumento das religiões evangélicas e pentecostais mais recente.

“Outra questão, hoje menos percebida, é que existia muita a referência visual do Convento da Penha na Grande Vitória. Quando Vila Velha era basicamente uma cidade restrita ao Centro, com menos prédios, assim como Vitória, o Convento era visto de quase todas as regiões urbanizadas. Sempre muito constante no cotidiano, tudo que se fazia conseguia avistar de certa forma a Penha, como se ela estivesse olhando, muito presente no cotidiano da população”, explicou Marcus Vinícius.

Significado de Penha

Quando Frei Pedro Palácios chegou a Vila Velha, trouxe consigo o quadro de Nossa Senhora das Alegrias. O frade morava em uma gruta e, segundo a lenda, a imagem sempre sumia e aparecia no alto do morro entre duas palmeiras, onde foi construído o Convento.

Penha significa “grande massa de rocha saliente e isolada, na encosta ou no dorso de uma serra” e, por isso, a santa passou a ser chamada de Nossa Senhora da Penha.

“Quando se debruça na história, você vê a presença de Nossa Senhora da Penha em vários pontos. Por exemplo, hoje se fala que a cor da bandeira do Espírito Santo é a cor do manto da padroeira, mas não é verdade. O manto de Nossa Senhora da Penha tornou-se azul e rosa por causa da devoção do povo capixaba. O azul e rosa surgiram em alusão ao manto de Nossa Senhora da Vitória, mas foi dado à padroeira que não tinha uma questão localizada na Grande Vitória, e sim em todo o estado”.

Por exemplo, quando eu time de futebol era campeão capixaba, eles iam até o Convento da Penha para agradecer. Qualquer tipo de milagre que aconteceu por aqui era todo atribuído a Nossa Senhora da Penha”, disse.

Fonte: A Gazeta