Até mesmo delegados de polícia já caíram no golpe do falso advogado no Espírito Santo e perderam dinheiro depositado em contas de golpistas. Devido à “democratização” do crime, especialistas entendem que o melhor antídoto para esse veneno é a informação em larga escala para que as pessoas fiquem atentas e não sejam mais ingênuas.
Em síntese, esta é a conclusão a quem chegaram os participantes da reunião da Frente Parlamentar da Advocacia, presidida pelo deputado estadual Mazinho dos Anjos (PSDB), realizada na noite desta quarta-feira (20), no auditório da Faculdade de Direito de Vitória, com a participação do secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, Leonardo Damasceno.
O evento reuniu dezenas de advogados e estudantes de Direito. Não havia um único profissional no ambiente que não tivesse relato de tentativa de golpe e até mesmo de casos em que os criminosos foram bem sucedidos, conseguindo enganar clientes dos escritórios.
O próprio presidente da Frente Parlamentar relatou prejuízos sofridos por clientes do escritório particular dele, com utilização até mesmo de Inteligência Artificial para “reproduzir” a voz de um dos profissionais que trabalham no local e enganar clientes.
A mesa contou com a participação e debates pelo promotor de Justiça Ronald Lopes, o secretário executivo da OAB-ES, Eduardo Sarlo, o advogado e juiz eleitoral Adriano Pedra, e o defensor público Ivan Mayer Caron, assessor de segurança institucional da Defensoria Pública Estadual, além do deputado Mazinho e do secretário Leonardo Damasceno. Representante a FDV, anfitriã do evento, estava a professora Ivana Bonesi Rodrigues Lellis, coordenadora do curso de Direito.
MODUS OPERANDI
O deputado Mazinho dos Anjos fez uma apresentação em que explicou como funciona o chamado golpe do falso advogado.
“Eles acessam informações públicas e privadas de processos, identificam e contatam potenciais vítimas por meio do aplicativo de troca de mensagens (whatsapp), usando um perfil falso, ou mesmo por e-mail, e solicitam depósitos ou transferências de valores por meio de PIX. Chegam a fazer envio de comprovantes falsificados de transferências e exigência de reembolso rápidos”, disse.
O parlamentar apresentou estatísticas oficiais, mas acredita que os números sejam muito maiores. “A OAB Nacional fala em 17,5 mil ocorrências em todo país, mas os números podem ser muito maiores. Por exemplo, São Paulo tem 1.600 denúncias, Minas Gerais 516 casos e Rio de Janeiro mais de 550 vítimas em 2025. Mas há escritórios que têm números maiores do que esses, até porque, após a primeira ocorrência, novos episódios deixam de ser notificados”, disse Mazinho.
Do Espírito Santo a OAB nacional divulgou 134 casos, mas todos os advogados presentes à reunião da Frente Parlamentar asseguram que esses números são muito maiores do que isso, no que os participantes da mesa de debate concordaram.
SUBNOTIFICAÇÕES
O secretário executivo da OAB, Eduardo Sarlo, destacou que “praticamente todos os advogados” do Estado sabem do golpe que é aplicado e foram vítimas ou alvo de tentativas de sua aplicação, ou mesmo tiveram clientes atingidos. Segundo ele, há uma subnotificação das ocorrências, assim como acontece com outros tipos de golpes existentes na sociedade.
“A OAB criou um comitê para tratar desse assunto, coordenada pelo advogado Renan Sales, e levou imediatamente o assunto às autoridades de segurança. Estamos acompanhando e colaborando com as autoridades nesse assunto. Pode, sim, haver advogados envolvidos, seja direta ou indiretamente, cedendo o token de acesso aos processos na justiça ou mesmo descuidando-se de sua guarda”, disse Eduardo.
O secretário de Segurança, Leonardo Damasceno, chamou de “inferno” o mundo dos golpes por estelionato e, em sua palestra, mostrou gráficos de monitoramento de crimes pelo Observatório da SESP que apontam um contraste entre as ocorrências de roubos em vias públicas e a ascendência dos casos de crimes cibernéticos nos últimos sete anos.
“Os crimes cibernéticos têm aumentado em média mais de 15% nos últimos anos. No ano passado, passaram de 20 mil e nos primeiros sete meses de 2025 já chegaram a mais de 13.500. No caso específico dos golpes do falso advogado, 62% estão na Região Metropolitana, com Vitória liderando muito na frente”, disse o secretário Damasceno.
O defensor público Ivan Mayer salientou o fato de as principais vítimas do golpes serem pessoas em situação de vulnerabilidade e citou um caso que chegou ao órgão em que uma pessoa que estava com a mãe hospitalizada ter sido alvo. “Os golpistas utilizam gatilhos mentais que parecem paralisar suas vítimas, geralmente utilizando-se de censo de urgência. Somente depois é que a vítima percebe que caiu”, disse Ivan.
AÇÕES
A reunião resultou no entendimento de que todos os órgãos devem se envolver na máxima divulgação do golpe e do modo de operação dos golpistas para que a população fique atenta às abordagens.
O deputado Mazinho dos Anjos anunciou que a Frente Parlamentar está reunindo casos concretos, juntando documentos, e notificando a Ordem dos Advogados dos Estados onde são identificados os advogados que tiveram seus tokens usados para acessar processos onde não são parte, bem como notificando a Justiça desses locais.
A Frente Parlamentar está divulgando a cartilha elaborada pela OAB-ES para prevenir a aplicação do golpe e também deu dicas.
DICAS PARA NÃO CAIR NO GOLPE DO FALSO ADVOGADO

  • Confirmar a identidade do advogado, solicitando número OAB, para chegar no sistema da Ordem;
  • Não realizar pagamentos para conta que não seja do advogado/escritório contratado;
  • Evitar qualquer tipo de pagamento solicitado por mensagens ou ligações, sem a devida checagem;
  • Desconfiar de pedidos urgentes de transferência via PIX, especialmente quando envolvem valores a serem supostamente liberados pela Justiça;
  • Guardar prints de conversas e comprovantes, que devem ser levados à delegacia para registro de boletim de ocorrência, caso ocorra o golpe;
  • Prefira se comunicar de forma presencial, principalmente quando for discutir questões financeiras;
  • O advogado deve trocar as senhas de acesso dos sites de processamento eletrônico;
  • Comunicar aos clientes sobre a existência do golpe e deixar claro quais são os canais oficiais do escritório;
  • Registre boletim de ocorrência se cair ou suspeitar de golpe.
  • Fonte: Secom