O dispositivo, criado por alunos da rede municipal de Guarapari, conquistou destaque em feiras científicas e acumulou prêmios

Um projeto inovador desenvolvido por alunos da Escola Municipal João Lima da Conceição, em Guarapari, ganhou destaque nacional ao propor uma solução para reduzir acidentes na BR 101, rodovia que corta o país de Norte a Sul e com quase 480 quilômetros de extensão no Espírito Santo. Os estudantes Natália Sá, 16 anos, Caleb Fabris, 15, e Henrique Velten, 16, criaram os Óculos Antissono em Rodovias (ASR), um dispositivo que emite alertas ao identificar sinais de sonolência no motorista.

A ideia surgiu após o trio constatar, em pesquisas, que a sonolência está entre os principais fatores de risco no trânsito. De acordo com um levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), publicado em 2019, cerca de 20% dos acidentes de trânsito no país estão relacionados à falta de atenção causada pelo sono.  Segundo os estudantes, os testes e a coleta de dados foram concentrados na BR-101 devido ao intenso fluxo de veículos e à proximidade com a rodovia, por onde passam com frequência, mas, pelo protótipo desenvolvido, o dispositivo pode se aplicar a motoristas de qualquer rodovia.

O dispositivo utiliza sensores infravermelhos e Arduino (placa eletrônica utilizada na robótica) para monitorar o fechamento dos olhos dos motoristas. Caso os olhos permaneçam fechados por mais de dois segundos, o equipamento emite alerta sonoro e vibra, ajudando o condutor do veículo a despertar e, assim, evitar acidentes.

“Nós temos a esperança de que esses óculos possam realmente se tornar um produto para ser usado principalmente, mas não unicamente, na área logística. Nessa parte que envolve mais os caminhoneiros, os motoristas em si”, explicou Natália Sá.

Para Henrique, a oportunidade de criar o dispositivo foi mais do que um desafio científico. Ele cita que seu pai foi caminhoneiro e tem muitos amigos que seguiram a mesma profissão. E lembra do perigo que é a sonolência ao volante de veículos pesados. “Não é todo dia que se vê falar sobre o assunto e ainda mais sobre uma solução para isso. Então, avalio essa oportunidade como incrível.”

Reconhecimento científico

O projeto nasceu em 2023, dentro de um programa-piloto de iniciação científica promovido pelo Núcleo de Tecnologia Educacional de Guarapari. A seleção dos três alunos foi feita pela direção da escola, com o objetivo de incentivar a pesquisa e a busca de soluções para desafios reais da comunidade.

A coorientação técnica ficou por conta de José Elton Pereira Neto, responsável por ministrar um curso de Arduino e acompanhar o desenvolvimento do protótipo. “Os alunos envolvidos no projeto têm muita facilidade com a tecnologia. Com isso, o curso se desenrolou de forma muito rápida e logo partimos para o desenvolvimento dos protótipos. Auxiliei dando suporte para as dúvidas deles sobre recursos que poderiam ou não usar”, relata José Elton.

O dispositivo rapidamente se destacou em eventos científicos, sendo campeão na Feira de Ciências Sul Capixaba (Fecisc). Ficou em segundo lugar na Feira de Ciências e Inovação Capixaba (Fecinc) e representou o Espírito Santo na Mostratec Júnior, no Rio Grande do Sul. Este ano, os alunos alcançaram o 4º lugar na categoria Engenharias da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), a mais importante da área no Brasil, realizada na Universidade de São Paulo (USP).

Para Natália, a visibilidade do protótipo é um indicativo claro do grande potencial na prevenção de acidentes. “Nós queremos que se torne algo que não fique apenas em uma bancada de feira, mas, sim, que uma empresa possa realmente ajudar a reduzir esse índice de acidentes no trânsito causados pela sonolência do motorista”, enfatiza a estudante.

Presença jovem na ciência

Os estudantes que desenvolveram a iniciativa científica destacam a importância da presença jovem no meio científico. Eles dizem que muitos adolescentes têm uma visão distorcida da ciência. Por isso, defendem que qualquer problema pode ser um ponto de partida para encontrar soluções e perceber que suas mãos podem ser a ferramenta que um problema precisa para ser resolvido.

Precisamos falar sobre a iniciação científica com os jovens e mostrar que podem fazer muito mais do que pensam que são capazes. Além de conhecer muito mais do que já conhecem.”

Henrique VeltenEstudante

Mesmo após concluírem o ensino fundamental, os jovens seguem conectados à pesquisa. Natália cursa Administração Integrada ao Ensino Médio no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Henrique estuda na Escola Guarapari e Caleb, na Escola Silva Melo.

Fonte: A Gazeta