Encontradas em poucos países no mundo, as areias monazíticas têm potenciais terapêuticos comprovados, além de outros estudos já em andamentos. O g1 explica o que é e por que elas são tão procuradas no Espírito Santo.

Menos de um milímetro de tamanho, composta de elementos raros, mas com enorme benefício para a saúde. A areia monazítica, encontrada em poucos lugares do mundo, tem potencial terapêutico reconhecido por estudo científico e, por conta disso, é bastante procurada por pessoas com diversos tipos de doenças, inclusive no Brasil.

Uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), por exemplo, já comprovou esses potenciais em areias de Guarapari, fato que deu ao local fama até internacional. No Brasil, além do território capixaba, essa areia é encontrada no litoral da Bahia e do Rio de Janeiro.

Mas areia monazítica por si só não significa que ela tenha potencial terapêutico. É preciso comprovar por meio de estudos. Isso porque o ambiente onde ela se encontra, como a brisa do mar, a temperatura e até a radiação local também interferem em suas propriedades e faz toda a diferença entre ter ou não algum tipo de benefício para a saúde.

Em Guarapari, duas praias são famosas por essas areias. São as praias de Areia Preta e de Meaípe. Mas há outro estudo em andamento, conduzido pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), para tentar provar esses mesmos potenciais em outras praias da cidade vizinha de Anchieta, no Sul do estado.

Para explicar melhor esses potenciais para a saúde, entender por que as areias têm propriedades terapêuticas e o que realmente é uma areia monazítica, o g1 preparou um guia com perguntas e respostas sobre o assunto. Confira abaixo!

O que é areia monazítica?

De acordo com o professor de Física Nuclear da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Marcos Tadeu de Azeredo Orlando, as areias monazíticas são sedimentos formados naturalmente por elementos raros. É um tipo de areia, portanto, que possui uma concentração natural de minerais pesados.

“A areia monazítica apresenta elementos químicos raros, como o cério, o lantânio, o neodomínio, o urânio, o samário, o cério, o fósforo, o ferro e o tório. No caso do tório, é um elemento radioativo”, disse o professor.

Junto com o tório, que é radioativo, a areia monazítica forma um ambiente específico que ajuda a aumentar a imunidade do corpo. Por isso que ela é procurada para prevenção e até tratamento de algumas doenças.

“A areia traz um conjunto de elementos químicos, normalmente encontrados na natureza misturados a minérios, de difícil extração – daí o nome -, mas com características peculiares, como magnetismo intenso e absorção e emissão de luz”, explicou.

Areia monazítica é rara?

Sim. O professor explicou que as monazíticas são encontradas nas chamadas “terras raras”. Isso porque são pouquíssimos lugares do mundo que têm esse tipo de areia.

Segundo o docente, há registros de terras raras com monazíticas na China, Índia, Austrália e no Brasil. No entanto, as maiores quantidade de areias monazíticas estão concentradas no Brasil e na Austrália.

“O Brasil tem uma formação geológica mais antiga, que contribuiu para que o metas pesados fossem depositados no fundo do mar e ficassem preso na região costeira, formando a areia monazítica”, explicou.

Apesar de terem sido registradas nesses países, não significa que elas são abundantes na natureza.

No Brasil, onde a areia monazítica é encontrada?

Praia da Areia Preta, em Guarapari — Foto: Reprodução/Redes sociais

Praia da Areia Preta, em Guarapari

De acordo com o professor Marcos Tadeu Azeredo Orlando, a areia monazítica já foi identificada nos estados do Rio de Janeiro, da Bahia e do Espírito Santo. O estado capixaba é o local onde há a maior concentração de areia monazítica do país.

“De acordo com as últimas medições realizadas, a concentração de monazítica na Praia da Areia Preta e de Meaípe, ambas em Guarapari, é 32 vezes maior do que a de Porto Seguro, na Bahia”, disse.

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No Espírito Santo, elas ocorrem principalmente no litoral de Guarapari e Anchieta, no Litoral Sul.

Areia monazítica é radioativa?

Sim, mas não tem radioatividade em níveis elevados ao ponto de causarem danos à saúde humana. De acordo com o professor, devido à formação geológica do Espírito Santo, o tório é o principal elemento encontrado na areia monazítica capixaba.

“Este elemento lembra aquele adesivo que brilha no escuro, fazendo com que a areia brilhe o tempo todo”, disse o professor.

O tório é justamente o elemento radioativo presente na areia. Mas, apesar disso, não oferece riscos à saúde por causa do baixo nível de radioatividade.

O professor explicou ainda que a concentração de radioatividade na areia monazítica é medida em intensidade de becquerel por quilo (bq/kg).

“Esta é a forma de medir a radiação (fostato de tório) presente na areia monazítica”, explicou.

Por que as areias monazíticas ajudam a prevenir doenças?

Segundo o professor e físico nuclear Marcos Orlando, que participou do estudo que comprovou a propriedade terapêutica de areias de Guarapari, o spray d’água que vem das ondas, a temperatura local e magnetismo da areia, juntos, e principalmente com o gás que ela gera, o radônio, proporcionam uma radiação que previne doenças.

“Baixos níveis de radiação estimulam a defesa do corpo. Isso acontece em vários lugares. Especificamente em Guarapari, a areia tem uma dose muito salutar. É uma dose pequena, mas não muito. Ela não trata, ela previne. Essas pessoas ganham uma resistência maior. É como se fosse uma vacina”, explica o físico nuclear.

Segundo o professor, a areia compõe o quadro terapêutico, com aumento da imunidade do corpo. “Você tem o gás que ela emite, então tem que ser uma quantidade grande. Mais o calor, todos esses fatores juntos, é que favorecem a saúde. Mas não é uma areia milagrosa”, frisou.

Vale lembrar, portanto, que as areias não têm poder de cura, segundo estudiosos. Eles alertam também que não se deve tirar as areias do ambiente natural e levá-las embora. Isso porque elas só fazem efeito no local onde são encontradas, devido a uma série de fatores, como a geografia, temperatura e radiação locais.

Quais doenças podem ser prevenidas?

Muitas pessoas procuram as areias monazíticas em Guarapari atrás de benefícios para prevenção de doenças. Apesar de não ter poder de cura, há registros de turistas e pacientes que vão em busca das areias principalmente em casos de reumatismo, artrites, nevralgias, mialgias e enfermidades musculares.

Ainda de acordo com o professor, outros estudos estão em andamento para comprovar o potencial terapêutico da areia monazítica.

“Neste momento, a gente está fazendo uma pesquisa junto com a Universidade da Colômbia e verificando o potencial da areia monazítica para a prevenção de câncer de pele”, disse.

De acordo com o professor, resultados preliminares desta pesquisa já apontaram que ratas que tinham câncer de pele mais agressivo tiveram remissão da doença após o contato contínuo com a areia monazítica.

“A quantidade de radiação é muito pequena, então ela [a radioatividade] estimula a defesa do nosso organismo. É o equivalente a pegar uma pessoa que está sedentária e obrigar ela a se exercitar todo dia, andando 10km. No entanto, se você pegar uma radiação muito forte, é como se você falasse: ‘quero que você corra 10 km sem parar’, e aí você vai matar a pessoa. Para nós, já está comprovado que estimula a defesa do organismo e combate bactérias nocivas”, disse o professor.

A areia monazítica previne o câncer de mama?

Vera Lúcia se sentiu aliviada após pisar na areia — Foto: Fernando Madeira/ A Gazeta

Vera Lúcia se sentiu aliviada após pisar na areia

Em 2017, após 10 anos de estudos, pesquisadores comprovaram as propriedades terapêuticas da Praia da Areia Preta e de Meaípe, ambas em Guarapari. Na ocasião, o estudo apresentado apontou a relação entre a menor incidência de câncer de mama em mulheres no município e as propriedades das areias monazíticas.

Os números comprovaram que a cidade de Guarapari tem o menor número de casos de câncer maligno de mama per capita no Espírito Santo: são dois casos a cada 100 mil mulheres; em Colatina, a ocorrência foi de 178 mulheres com a doença a cada 100 mil; em Linhares, o número foi de 148 mulheres. Os dados são do Sistema Único de Saúde (SUS).

Fonte: G1